No artigo anterior desta série comentei sobre a importância da redundância das fontes de alimentação, porém o que acontece se uma das fontes falhar? Felizmente, nada... Nenhum usuário é afetado, nenhuma reclamação é feita, nenhum aviso é dado. Se não houver um sistema de gerenciamento a fonte danificada por ficar assim por meses ou anos. Se não houver um sistema de gerenciamento ninguém vai ser avisado, até que a segunda fonte apresente problemas. Nessa hora a pergunta que surge é: "como as duas fontes falharam ao mesmo tempo?". A resposta é: "não falharam ao mesmo tempo, apenas ninguém viu a primeira falhar".
Assim, em sistemas com redundância o gerenciamento é ainda mais importante, porque houve um investimento (se pagou a mais) nessa redundância. Esse investimento só ocorre porque a empresa precisava garantir o funcionamento sem interrupção da rede. No entanto o resultado desse investimento fica ameaçado porque uma falha passa desapercebida.
Procrastinação
São várias as desculpas que os responsáveis pela rede usam para não implementarem um sistema de gerenciamento mínimo.
Muitos gerentes e administradores de rede consideram que uma falha desse tipo acaba sendo, mais cedo ou mais tarde, detectada naturalmente. Mas na verdade a correria do dia a dia acaba impede que os responsáveis prestem atenção a esse tipo de situação, afinal quando se trabalha apagando incêndio, a filosofia é "se não tem fogo, não precisa prestar atenção".
Outra desculpa que os administradores usam para ignorar a necessidade do gerenciamento é dizer que se é muito difícil ocorrer um problema, então dois problemas no mesmo sistema é praticamente impossível. No entanto esquecem que uma rede precisa funcionar por vários anos e, neste caso, as chances de mais de uma ocorrência aumenta. Sem um sistema de gerenciamento as falhas não precisam ocorrer ao mesmo tempo.
Gerenciamento
O gerenciamento, neste caso, não precisa ser necessariamente um sistema caro de monitoramento SNMP, cheio de luzes e cores. Com um pouco de bom senso e organização é possível criar um sistema de gerenciamento que permita evitar problemas na rede.
Pode se começar com um simples procedimento mensal de checagem geral dos equipamentos. Para isso se cria uma lista de todos os equipamentos da rede e de como verificar o seu funcionamento.
Nessa lista coloque quais sub-sistemas devem ser verificados, isso é importante principalmente nos equipamentos com redundância, como fonte de alimentação, links ou placas controladoras. Os equipamentos de rede podem ser facilmente verificados através de comandos via SSH e assim, em pouco minutos é possível fazer uma verificação geral da rede.
Obviamente não adianta nada montar essa lista e nunca executa-la. É importante executar esse procedimento pelo menos uma vez por mês e para não se perder, crie uma tabela onde você possa indicar quando a verificação foi feita (sugestão: use algum dos sistemas como Google Drive ou Microsoft OneDrive para criar essas tabelas).
A próxima etapa no gerenciamento da rede seria utilizar um sistema de monitoramento como MRTG, Cacti ou outro equivalente. Esses sistemas não vão informar de falhas, mas vão permitir o controle da carga na rede, gerando gráficos de ocupação de links, armazenamento em disco, processamento (carga de CPU), etc.
Através desses gráficos é possível identificar antecipadamente quando algum problema irá ocorrer. Para isso basta olhar os gráficos para tentar identificar um link que está chegando próximo ao seu limite, um servidor com disco perto do seu limite ou um switch com CPU chegando próximo aos 100%.
Assim como no caso anterior, não basta ter esse sistema de monitoramento instalado, é necessário que o administrador verifique esses gráficos de tempos em tempos para tentar identificar esses possíveis problemas futuros.
Resumo
Como vimos, o gerenciamento é uma parte importante da política de confiabilidade de uma rede local, apesar de ser normalmente ignorado pelos administradores. Na verdade conheço muitas redes onde o sistema de gerenciamento está nos planos do administrador, porém nunca é implementado por falta de tempo.
Normalmente isso ocorre porque o administrador ou responsável quer implementar algo que seja realmente o melhor possível. O argumento normalmente é: "se vou gastar tempo para fazer isso, que seja para fazer o melhor possível. Eu sou bom, eu consigo.". Caso típico onde o ótimo arruína o bom.
Comece com o mais simples, mas comece. Seja realista, leve em conta suas limitações de tempo e esforço e também as limitações dos demais que iriam te auxiliar nessa tarefa. A verificação manual mensal já é um ótimo começo.
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